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quarta-feira, 3 de setembro de 2014

Queridíssima Cinderela


Estou completamente certo de que
o inferno é apenas uma vitrine do céu.


Eu só tenho um vestido de vidro para você. Devemos prová-lo?



Não sou o único,
Obcecado com o sol,
Receoso do que encontro,
Quando olho para dentro.1


Sois ao mesmo tempo
Salvação e perdição,
O mais que quero,
O mais que suporto ter


Só os filósofos a saúde escolhem -
Empresários, artistas, não.
Podemos escolher o que somos?


Para dentro, quando olho,
É o mesmo sol que encontro.
Abrir os olhos, fechá-los,
Ao fim talvez seja o mesmo.


Para entender se és gostável,
Preciso checar se és lambível.
Não é preciso o suficiente perguntar:
Mostrarás o que desejas,
E eu perceberei o que eu desejo.
E aquilo que desejamos é muito perigoso.


A bobagem, o pecado, o erro e o errado... É com avidez que alimento o meu corpo, como o mendigo alimenta seus vermes. Não há mal no egoísmo que não exista igualmente no altruísmo. E, lá fora, sempre haverá um mal maior, ameaçando nos vencer.

As frondosas lágrimas é que perfazem a lama do caminho. Não há solução em querer somente para si ou dar-se a tudo. O mundo esvai a cada momento, e ninguém queria que ele parasse mesmo, ainda que pensemos que sim. Inimigos maiores espreitam.

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A dor é irremediável, a injustiça é perene e natural, corpos e mentes se corrompem. Tudo o que podemos fazer é evitar a dor e de todas as corrupções ter a coragem de escolher a mais doce. No mundo da luxúria e da cobiça, a coragem sempre se esconde e culpa.

É o diabo que segura os fios que nos movem e suspendem. Nunca alimentarei o outro com a avidez que como. E cotidianamente condeno a fome que não é minha. O único defeito deste mundo, o único verdadeiro pecado, é a falta de alegria.

O único pecado neste mundo roto, sujo, violento e infame é a alegria que não me permito e que não permito a ti. A hiprocrisia de fingir que é nas prisões que decoramos que se encontra o sentido inefável, a beleza transcendente, o bem último que faria a eternidade suspirar.

Porque não quero que encene teus remorsos é que mal enuncio expectativas. Dá-me o que me dás de bom grado, já te tomei o que de ti pude conquistar, o resto deixemos para lá. Nunca te pedi nada, que não tua sinceridade. Deixe-me apenas ver teu corpo nu.

São a tristeza e a raiva os únicos crimes deste mundo: os olhos banhados em lágrimas descontroladas, o sonho do cadafalso, para mim ou para você. Tu o sabes, cara leitora: não traias as alegrias de nossos corpos e não te entregues à pusilanimidade deste mundo...3

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1 Almost-translation of: U2 (1997). Staring at the Sun. Island: Pop.

2 Image by: Faster, pussycat! Gif! Gif! (2013). M (1931). Dir. Fritz Lang. Available at: http://fasterpussycatgifgif.tumblr.com/post/54926574926/m-1931-dir-fritz-lang

3 Reference to: Baudelaire, Charles (1857 [2008]). Les Fleurs du Mal. Edition by Josef Nygrin. Available at: http://www.paskvil.com/file/files-books/baudelaire-fleurs.pdf

And You Will Know Us by the Trail of Dead (2002). Sources Tags & Codes. Interscope.

Noteworthy the consultation to the translations of: Ivan Junqueira, E. M. S. Danero, Roy Campbell and William Aggeler.

4 Video by: Modern English (1982). I melt with you. 4AD Records: After the Snow.