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quinta-feira, 7 de junho de 2007

Por que muitos se irritam comigo?

Porque eu faço uma afirmação pura, e as pessoas pouco sabem proceder assim, demasiado imperiosas. Elas compreendem tão pouco o que é uma afirmação pura, que acabam por acreditar que só é possível afirmar negando. Então elas negam a mim, negam o que eu afirmo. O que eu afirmo a quem desgosta de mim e a quem não me quer? Afirmo minha calma, vos amo, meus mesquinhos. Batam em mim, se quiserem, estou disponível, se vós só sabeis ser alegres excluindo a dor, concebendo e opondo-se à tristeza. Mas quem de vós entendeu até hoje o que é a tristeza? A tristeza é uma expressão da potência. Talvez vós achais que dizendo isso eu me escuso, mas são vós que assim vos escusais ao afirmarem através da negação, e eu, por fim, escuso vocês porque sei de um amor mais verdadeiro. Oh, meus doces lobos, travestidos em peles de ovelhas, a que servem tão longas orelhas, por debaixo destes tão longos panos? Eu digo tudo a vós, mas o que vós sabeis ouvir? Vós ainda achais que estou julgando, mas como pode um moralista entender que a lei é ainda a expressão de um desejo, enquanto ele próprio só conhece julgamentos e dívidas? Esta, o sei, é a parte que menos entendeis. Me acusais do vosso próprio ato, porque tirei minha máscara e porque quero tirar a vossa – sei que sabeis fazer duma mentira alegria, mas vos convido a fazer uma alegria de uma verdade! Mas eu não preciso de vós, como vós fingis precisar de alguém. Como se pode não entender um homem ambíguo? Ele afirma tudo! É translúcido! E enquanto ele os convida para o melhor, vocês conclamam o direito do desejo para a destruição. Eu os concedo, mas com quantas destruições se faz uma criação? Pergunto-lhes quase com a certeza de que darão as piores respostas. Quando entenderão a diferença entre a negação da afirmação e a afirmação da negação, que está contida nos simples e ignorados conceitos de afirmação e negação? Minha boca é um labirinto como nada em vós é – e pretendeis calá-la com vossas linhas retas? Dos vossos fios eu faço nós!
Sois vós que inventais a tristeza – eu simplesmente a abraço, porque me encanta cada mísera afirmação que encontro em vós, inclusive a mais egoísta. De cada desejo vosso, estreito, longo, profundo, unidirecional, eu faço dobra, superfície, novelo, tecido, multiplicidade, circularidade, esfericidade – vós achais que são um eu, e a vós eu apresento um outro eu: é assim que faço nós, é assim que faço deus.
Vós confundis crítica com depreciação, rejeição, mesmo quando a faço rindo. A alegria alheia dói nos tristes. Se de vós estou longe é porque não sabeis estar perto de minha alegria, porque vos machuca. Antes de afirmar minha tristeza e tua alegria, ou minha alegria e tua tristeza, faço meu distanciamento afirmar ambas nossas alegrias, inclusive a tua, mesquinha. Quem mais sabe ser generoso com a dor?
Que mais vós conseguis afirmar, além das próprias paixões?

2 comentários:

Carine Campos Psicóloga disse...

Você tem razão em sentir/pensar essas coisas, mas ter outros modos também é importante.

Guilherme Franco disse...

Amigos: queiram ver o sexto episódio da primeira temporada dos Simpsons, Moaning Lisa, transladado como Lisa Tristonha...