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quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Sobre fracassos crassos

deus é um grande barganhador
mas tenho confiança de que
hora ou outra
chegaremos a um acordo
é só uma briga
para ver quem é mais bobo

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

Política (um título pouco satisfatório para um texto pouco satisfatório)

Durantes estas duas semanas, a proposta vai ser quase simplesmente fazer uma viagem (vai ser uma viagem com uma pequena introdução). O poste está dedicado a Sandro do Nascimento, outro incompreendido artista contemporâneo. O agradecimento é ao Daniel Dutra e à Talita Tibola, que hoje em dia são as pessoas que mais me dão o que pensar.

Assim como um artista sente no íntimo a irrevogável conveniência de mudar de estilo, também sente o vivente (até um simples silogismo aristotélico corrobora isso). Durante muito tempo me calar foi o modo que encontrei para poder estar contigo. Mas queres também minha voz intrusa e delicada. O riso que esgarça tua carne, escarnecida. As lágrimas que te louvam, demonstrando geometricamente a diferença entre tua presença e tua ausência, teu amor e tua indiferença. Não estás pronta, não é motivo pra te jogar fora. Talvez nunca estejas, ainda assim. É muito certo que te machucar seja o meu último recurso, mais último que morrer, esta crisálida, devir-borboleta, não sei dizer melhor 'que dizes. No seu limite e no meu limite é que nos encontramos. E se nossa relação real é superficial porque não sabemos nos comunicar, mostrar que nos amamos, para além dos estereotipos (os tipos estéreis, duros) - 'você não me entende', 'você me irrita', 'você não me dá atenção', quais mais temos? -, há algo de nossa relação profunda que não me permite ser sem ti. Agradeço então por existir em minhas fantasias, ser para mim mais do que o comunicável. A vida é um texto, e todo texto se presta a que, depois dele, a vida nunca mais seja a mesma. Sei que isso não acontece senão imperceptivelmente, e por isso nada me tem sido mais insosso que a distância dos corpos transformada em palavras. Não são essas as borboletas que queríamos. Ser ambíguo é meu jeito de ir além dos limites. Na verdade, não sei o teu. A impressão que tenho é constantemente essa, de que a gente não se conhece, senão pelos estereótipos. Algo acontece quando o fim é muito premente mas os meios não fluem. Eu me encho de defesas, começo a dizer, fazer o contrário do que penso mas nem por uma exata ironia.
Deixemos os prolegômenos para enfim viajar: http://radamesm.wordpress.com/2007/10/20/sou-tropa-de-elite
- comentário de um posto do Radamés Manosso, alguém que é mais do que um produtor de conteúdos educacionais para internet. Vamos conhecê-lo?

quinta-feira, 1 de novembro de 2007

Um lembrete, em tempos de prostituição e trivialidades

Convém àquele que quer (para mim querer é ato intransitivo, que, no máximo, poderia ser traduzido por querer tudo - mas concedo aos mais despreparados o seu objeto particular, sua fantasia), escolher bem as encruzilhadas onde venderá seu corpo - ou sua alma. Como se sabe, a sorte e o destino se dão em função dos caminhos e das escolhas. Precioso que a vontade saiba seduzir, do modo que lhe convier: que cante, que inebrie, que dance, que apazigue... O modo pelo qual a vontade conquistará os seus amantes não precisará condizer com mais de duas coisas: o seu destino e ela própria.
Jorge Papapá canta inescrupulosamente o amor veraz, o amor de ninguém: o amor é de ninguém e é narcísico, só quer a si mesmo (não quer, portanto, o ódio). Somos o meio, nós, os tradutores. Traduzimos o amor em amor, mas creio que ele estava falando do desejo. É como Delari [deleuze+guattari] pretendendo nos dizer para perder o nome e o rosto e sermos impessoais. Mas quem ama pode ser tão pouco minucioso? E, para nós, contemporâneos, se o amor se livra das amarras é para cair nos fluxos fugazes do desejo. Mais uma vez, escolhi o caminho do meio - e nada poderia ser tão infrutífero. O ciúme nos torna radicais, e também a solidão. Mas não toda a solidão. Não para quem é generoso com a solidão. Mas eu não estou mais sozinho, escondi minha solidão nos outros. Finjo estar perto para poder levar mais longe. Descobri que mais do que dicordar, gosto de levar mais longe. Porque reconheço que você me atravessa de um jeito que então não posso ser inteiro. Procuro-te em pensamento e não acho algo que diga algo, miragens móveis, voláteis no deserto. O corpo arfava enquanto a mente prescrutava, e não posso ser eu simplesmente quando você está no meio. E você é precisamente aquilo que está no meu meio, aquilo que está estorvando o meu fim. Se você é a seta que me desmonta querendo outra coisa, é oportuno eu te erguer e jogar longe. Sei bem fazer isso: sem que te doa. Você é um pouco a seta e um pouco o alvo, mas depois o que quero está além de você. Atravessada na garganta, que engole seco ou sangue. E o silêncio é mais incompetente 'que eu.
De Leve [http://dicamelim.blogspot.com] foi pro funk (ou melhor: estilo foda-se?) e fez sua obra-prima, na minha singela e superficial opinião: O que que nego quer? [http://media.trama.com.br/tramavirtual/mp3/m_38/193152.mp3 http://www.youtube.com/watch?v=EK7Apnie-4E] E a pergunta que coloco é: até onde pode esse movimento levar? Qual a mais pura nata do "vulgar" da sexualização (se existe a sexualização é porque um dia nós, seres sexuais, nos dessexualizamos)? Quer dizer: alguns estão tentando criticar a bunda com a própria bunda - e quem, de sã consciência, vai hoje no brasil se opor às bundas? Somos feitos delas! O punk brasileiro hoje não é o funk? Lembro-lhes, amigos, que quem faz cultura é a arte. Ou a maldição do pop (acessibilização da obra ao gosto) é a moda que veio pra ficar? Questões prementes para nós, artistas contemporâneos (estou falando da arte no mundo hodierno, e não da arte pós-Duchamp, que era um ignorante genial, e que influenciou muitos 'artistas', digamos, para ser afirmativo, que errar uma vez é procurar, e errar outras vezes é continuar procurando - como se conseguiu em plena modernidade não ter uma visão histórica? ou não se entender que o conceito está na própria metáfora e é mais belo que assim esteja? ou que o relativismo, o subjetivismo só implica em qualquer coisa num sujeito destituído de vontade estética, mais conhecido como o nihilista? - eles mal sabem o que é arte, fizeram dela um paradoxo quase ininteligível), que lutamos pelo espaço para demonstrar nossa arte sempre através das mais eficazes (e, portanto, mais deturpadas) traduções. A sedução é tanta que não sabemos mais o que é sério e o que não é (João Brasil [http://fmjoaobrasil.blogspot.com] diz que faz suas músicas de maneira séria, e que só agrada os outros porque agrada a si mesmo - fico eu pensando: e eu, gosto desse papapapapaparára porque tem suíngue ou por que me faz rir?). O que é o aprimoramento do narcisismo (deixaram os blogues de ser, se é que um dia foram, de adolescentes meigos e carentes ou, simplesmente, os rapazes ganharam barba e as moças cortaram o cabelo propondo a sua produção cultural - música, literatura, intelectualidades, dando estilos coquetes - e às vezes subversivos - ao seu inocente desejo de ser amado?)? Se há já no eu a instância do outro (como Freud perspicazmente propunha), o que me agrada em mim mesmo não é talvez o outro que há em mim? Se a fantasia é inerente ao humano, nossa questão fundamental é a dialética do desejo? Sofreremos sempre de nos entregarmos demais ao outro ou não nos entregarmos de modo algum? Sadismo e masoquismo no templo da democracia.
O trivial gera polêmica e o mau gosto nos redime. Nem mais eu sei se estou usando o caminho mais fácil pra chegar no lugar mais difícil (será que esse caminho leva lá?) ou se estou propondo o outro caminho (será que então é possível que ele realmente leve a algum lugar?).
O que sei é que nunca suplicaria como Miguel Torga (incrível que pareça, a solidão é mais impossível que o amor).